RIO BRANCO BICAMPEÃO DO INTERIOR 1922-1923
- Esse conteúdo foi escrito originalmente em 2009, pelo jornalista Claudio Gioria, e atualizado em 2025, com base em informações da imprensa da época e em atas do Rio Branco Esporte Clube.
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Nos anos 20, o máximo que um clube do interior poderia almejar era ser campeão paulista do interior, um torneio comandado pela Apea (Associação Paulista dos Esportes Atléticos), a mesma que organizava o Campeonato Paulista (da capital) da época. A competição, naqueles moldes, foi disputada a partir de 1919 e ninguém, a não ser o Rio Branco, foi campeão duas vezes nos anos 20.
Em 1924, o Campeonato do Interior não foi disputado e, em 1926 e 1927, entre as muitas fusões e unificações de entidades que marcaram os primeiros anos do futebol paulista, o torneio foi disputado tanto pela Apea quanto pela LAF (Liga de Amadores de Futebol), assim como acontecia com o “Campeonato Paulista da Capital”.
O torneio era dividido em zonas regionalizadas. Os campeões de cada zona se enfrentavam então em turno único em jogos disputados na Capital paulista para apontar o melhor time do interior.
Ao campeão do interior era dada a oportunidade de enfrentar o campeão da Capital, pelo simbólico título de campeão paulista (simbólico porque o campeão paulista reconhecido historicamente era quem ganhava o torneio da Capital). Mas isso nunca foi problema, porque nunca um time do interior conseguiu vencer a Taça Competência, como era chamada esta decisão de apenas um jogo.
O Rio Branco estreou no Campeonato do Interior em 1921 e logo de cara fez bom papel, chegando ao título da Zona Paulista. Com uma vitória por 2 a 1 sobre o Guarani em 22 de janeiro de 1922, o Rio Branco terminou com o mesmo número de pontos que o Bugre, o que provocou um jogo desempate, na semana seguinte, em Jundiaí.
A partida foi violentíssima, com os ânimos acirrados, e terminou com uma goleada de 5 a 2 para o Rio Branco. Embora o título fosse simbólico (era como um título de uma fase hoje em dia), é a primeira conquista da história do futebol do Rio Branco.
Na fase final, o Tigre chegou à última rodada precisando apenas de um empate diante do Paulista, mas acabou derrotado por 1 a 0, no campo do Ypiranga, em São Paulo, e viu a taça escapar de suas mãos.
No campeonato seguinte, a história mudou. O time venceu a Zona Paulista, derrotando o Rio Claro por 3 a 2, em partida que colocou frente a frente os campeões da Zona Baixa Paulista (Rio Branco) e da Zona Alta Paulista (Rio Claro).
No jogo decisivo do Campeonato do Interior, em 8 de abril de 1923, o Tigre derrotou o Taubaté (campeão da Zona Central) por 2 a 1, gols de Braga e Fructuoso, e ficou com a taça inédita, de fato a primeira competição oficial vencida pelo clube.



O dia 23 de abril daquele ano foi de festa em Villa Americana, que nem cidade era ainda, e sim um distrito de Campinas (a emancipação política de Villa Americana ocorreu em 12 de novembro de 1924).
A diretoria do ainda Rio Branco Foot Ball Club (apenas em dezembro de 1961 passou a se chamar Rio Branco Esporte Clube), acompanhada por torcedores e de banda, seguiu para a estação da cidade às 15h30 para esperar a comitiva que vinha de São Paulo trazendo a Taça Palmeiras, o troféu destinado ao campeão do interior de 1922.
A taça era trazida por Manoel Freitas Pinto Júnior, representante do Rio Branco junto à Apea. Com eles, representantes de três jornais: Gazeta de Campinas, Folha da Noite (São Paulo) e O Estado de S. Paulo.
Recebidos ao som de banda, o quarteto foi levado à sede do Tigre, onde lhe foi oferecido um “copo de cerveja”, segundo relato da época. Em seguida, a comitiva, acompanhada pelos jogadores campeões, seguiu de carro para Carioba, onde conheceram a sede do clube Carioba, grande rival local do Rio Branco à época.
Após percorrerem ruas de Americana, participaram de um banquete, às 19h, no Hotel Brambilla. Tudo ao som da Orquestra Biancalana, sob a regência do maestro Germano Benencase (autor da música do primeiro hino do Tigre, composto em 1922), que, entre outras músicas, executou o Hino Nacional e o Hino do Rio Branco.
Enfim, a taça. Às 21h, todos seguiram para o Cine Teatro Central, onde foram entregues a taça e as medalhas aos jogadores. Pinto Júnior entregou o troféu ao presidente do Rio Branco, Liráucio Gomes, que a repassou para as mãos do capitão Alfredo Vitta. Medalhas de ouro foram entregues aos jogadores, também pelo presidente do clube.
Receberam a honraria Alfredo Vitta, Raphael Vitta, Paschoal Vitta, Aristides Pisoni, Luiz Fructuoso, José Conegundes (Carabina), João Oliveira Netto (Carrinho), João Cibin, Aurélio Cibin, Vergílio Braga, Alberto Machado, Augusto Américo, José Bortolato e Benedito Penteado (Ditinho).
Os jogadores do time de baixo, conhecido à época como 2º team, receberam medalhas de prata. Todos brindaram então a conquista com uma taça de champanhe, em um teatro lotado e em festa.
A festa não acabou por aí. Encerrada a sessão solene, todos seguiram para um baile, que invadiu a madrugada, terminando apenas por volta das 4h. No dia seguinte, novas comemorações.
No Parque Ideal, que ficava bem perto da sede do clube, foi oferecido um “piquenique” aos jogadores pelo povo de Americana. Por fim, um jogo festivo entre os jogadores do Rio Branco, que se dividiram em dois times, “Dr. Liráucio Team” (em referência ao presidente do clube, Liráucio Gomes) e “Nhonhô Aranha Team” (Carlos Alberto Aranha era o vice-presidente à época). Mesmo sem gol, o jogo foi uma festa para a torcida.
Após a série de homenagens, diretores e populares acompanharam até a estação a comitiva de São Paulo, desta vez ao som da Banda Municipal de Nova Odessa. No trem das 17h, os quatro integrantes da comitiva voltaram à Capital.



A conquista se repetiria no campeonato seguinte. O time chegou novamente às finais do interior, quando fez um jogo histórico diante da Francana, no campo do Corinthians, em São Paulo. Sob temporal, o time bateu a até então invicta campeã da Zona Mogiana por 1 a 0, gol de pênalti de Fructuoso, e colocou a mão na taça, que seria conquistada após um empate sem gols diante do Sorocabano, no dia 10 de fevereiro de 1924.
A notícia de mais um título para o Tigre fez os torcedores lotarem o Cine Teatro Central de Villa Americana, palco tradicional de comemorações na cidade, para cantarem o hino do clube. Com uma bateria de fogos, a torcida se reuniu para recepcionar os campeões, que haviam acabado de ganhar a taça Odilon Ferreira.
Cinco dias depois, o Rio Branco decidiu confeccionar medalhas de ouro para os jogadores e começou a arrecadar dinheiro. Na festa pelo título, gastou-se CR$ 125 em pastéis para os jogadores. Cada diretor do clube foi convidado a contribuir com CR$ 13.
Com o título do interior, pelo segundo ano seguido o Rio Branco enfrentou novamente o Corinthians pela Taça Competência. Diferente do que aconteceu no início de 1923, quando o Tigre foi goleado por 5 a 0, desta vez o time de Vila Americana vendeu caro a derrota para o Timão, 2 a 1, de virada.
O Rio Branco voltaria a ser campeão de sua zona (que passou a se chamar 3ª Zona) no campeonato de 1925, mas não foi bem nas finais daquele ano, disputadas no início de 1926.
Após derrota para o Velo Clube, naquele início de 1926, o time que encantou o interior do estado se desmanchou. Alfredo e Paschoal Vitta deixaram o clube para jogar no Pinhalense, de Espírito Santo do Pinhal; Carabina voltou para Limeira; Tito seguiu para Dois Córregos; Pisoni e Fructuoso foram para o Aliança, de Rebouças. Foi o fim de uma era no Rio Branco. A era mais vitoriosa da história do clube.
Em 2021, em uma decisão sem nenhuma lógica ou fundamento técnico, a Federação Paulista de Futebol, que nem existia nos anos 20, decidiu que os títulos do interior seriam unificados aos da atual Série A-2, a segunda divisão paulista. E hoje muitos repetem que o Rio Branco foi campeão da Série A-2 em 1922 e 1923. Algo completamente sem sentido, que distorce a história.


