Dr. Antônio Alvares Lobo

Patrono da emancipação política de Villa Americana

1860 – 1934

“À memória desse cidadão, que foi o mais denodado e tenaz defensor de Americana, que lhe deve desde a disputa de suas divisas, a creação do distrito de paz, e a sua elevação a município… Americana ainda deve perpetuar sua gratidão a esse grande patrono, em praça pública, para que todos americanenses possam ao passar diante de seu busto, descobrir se em reconhecimento pelo muito que fez pela nossa terra…” (grafia original)

 Trecho de discurso proferido pelo vereador Antônio Zanaga na 3ª sessão ordinária de 6 de fevereiro de 1948, em homenagem ao Dr. Antônio Alvares Lobo. Consta no Livro de Atas da Câmara Municipal de Americana.

Filho do maestro Elias Alvares Lobo e de Dona Eufrosina da Costa Lobo, o ituano Antônio Alvares Lobo nasceu em 15 de julho de 1860. Iniciou sua militância política ainda na adolescência, participando com o irmão mais velho de comícios abolicionistas.

Radicou-se em Campinas ainda jovem, onde depois de formado passou a advogar, associando-se a Francisco Glicério e Bento Quirino. Pela sua militância abolicionista, sofreu muitas ameaças de escravocratas campineiros, inclusive de expulsão do município.

Foi provedor durante 15 anos da Santa Casa de Campinas e um grande vicentino. Casou-se em 17 de abril de 1884 com Guilhermina Lobo, mesma data que, cinquenta anos depois, viria a falecer na manhã dos preparativos de um dia de comemoração pelas bodas de ouro, em 1934.

Antes da abolição da escravatura e o fim do império, atuou em processos de alforria de escravos para trabalharem na Fábrica de Tecidos Carioba, que era administrada neste período pelos irmãos Wilmot. O Centro de Memória da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) guarda os processos de alforria defendidos por Lobo (ver petições Lobo escravos – Processo 713 caixa 41 do 3° Ofício do Fórum de Campinas).

Ainda em fins do século XIX, realizava viagens de trem até o vilarejo de Villa Americana, de onde seguia de troly para sua fazenda, Santa Guilhermina, no município de Limeira, nas divisas com Carioba.

Nestas contínuas viagens, travou conhecimento com diversos moradores, comerciantes e produtores rurais locais, criando sólidas amizades, principalmente com Sebastião Antas de Abreu. Este possuía um armazém de secos, molhados, ferragens e outros materiais em frente à estação. Ali se realizavam as reuniões políticas, nas quais discutiam-se os problemas, ouviam-se as queixas e as reclamações dos habitantes da região.

O comerciante português com certeza foi o porta-voz de diversas demandas dirigidas ao advogado, que já em fins do século XIX ocupava importantes cargos na administração municipal campineira.

Após a Proclamação da República, em 1889, foi constituído o primeiro Conselho de Intendentes de Campinas, e coube a Antônio Alvares Lobo a presidência da intendência e, como tal, a chefia do executivo municipal.

Foi eleito vereador nos mandatos de 1892 a 1895 e de 1902 a 1905. Em 1911, assumiu a presidência da Câmara Municipal. (Não foram localizadas atas ou termos de posse desta legislatura. Conferiu-se o nome do Presidente a partir do livro de Registro de Correspondência do período – fonte: site da Câmara Municipal de Campinas).

Em 1902, era o intendente municipal de Campinas, cargo equivalente a prefeito, e discursou como convidado de honra na reinauguração da Fábrica de Tecidos Carioba. Este evento é emblemático para demonstrar o envolvimento e atuação política de Dr. Antônio Alvares Lobo nas questões de Villa Americana por mais de duas décadas.

A resolução da contenda territorial, a criação do distrito de paz em 1904 e a elevação a município em 1924 são conquistas villamericanenses alcançadas, em grande parte, pelos esforços de Antônio Alvares Lobo.

Este devotamento político com Villa Americana também trouxe conflitos e inimizades. Principalmente após 1917, quando Antônio Lobo patrocinou a criação de nosso município e bateu-se por alcançar esse objetivo dentro do seu partido e na Câmara dos Deputados. Considerado traidor da causa campineira, sofreu ataques da imprensa, de vereadores e de pares do Partido Republicano Paulista.

Em 1909, o prefeito municipal de Campinas, Orozimbo Maia, publicou ato através do qual nomeou “a primeira rua transversal, depois da estação da Companhia Paulista, de rua Dr. Antônio Alvares Lobo”. Este logradouro foi alterado para avenida em 1930 (ata da 2ª Sessão Ordinária da Câmara Municipal de Villa Americana de 13 de fevereiro de 1930).

Elegeu-se deputado estadual para a 6ª legislatura da Assembleia Legislativa, de 1904 a 1906, com 34.333 votos, e reelegeu-se consecutivamente até a 13ª legislatura, que terminou em 1927, ocupando a presidência em vários momentos do legislativo estadual.

No segundo aniversário da emancipação política de Villa Americana, em 12 de novembro de 1926, a municipalidade preparou diversos eventos oficiais para comemoração da data e homenagem ao seu patrono. Foi realizada uma sessão solene, com a presença do homenageado, para inauguração do retrato a óleo do Dr. Antônio Alvares Lobo na sala das sessões da Câmara Municipal de Villa Americana.

Ao longo da história da Câmara Municipal de Americana, Antônio Alvares Lobo foi homenageado muitas outras vezes, como na sessão do Conselho Consultivo do dia 17 de abril de 1934, quando o conselheiro Antônio Zanaga apresentou à mesa, em virtude do falecimento de Antônio Alvares Lobo, indicação para o fechamento do comércio, o hasteamento da bandeira a meio pau no paço municipal, o envio de telégrafo declarando pesar à família do falecido e que a prefeitura e o conselho consultivo enviassem uma coroa de flores durante os funerais (Ata da 6º Sessão do Conselho Consultivo Municipal de Villa Americana, 17 de abril de 1934).

Posteriormente, em 6 de fevereiro de 1948, o vereador Antônio Zanaga fez discurso em homenagem ao Dr. Antônio Alvares Lobo. “Essa figura ímpar de cidadão, esse varão puro, advogado e político experimentado e culto, homem bom e potimal, idealista a toda prova, deixando uma memorável tradição de honra, de altivez, de dignidade e de carácter; (…) que sobreviverá no culto de nossa fé da nossa gratidão e do nosso civismo, foi sem dúvida senhor Presidente, a do dr. Antônio Alvares Lobo”, disse (grafia original do Livro de Atas número 04, ata da 3º Sessão Ordinária da Câmara Municipal de Americana, de 6 de fevereiro de 1948).

Antônio Zanaga voltou a homenagear o patrono da emancipação em 27 de dezembro de 1955, quando foi discutido o projeto de lei 47/1955, que autorizava a ereção de um busto de Antônio Alvares Lobo na praça Comendador Müller (grafia original do Livro de atas número 06, ata da 10ª sessão extraordinária da Câmara Municipal de Americana, de 27 de dezembro de 1955).

Com a passagem do centenário de nascimento de Dr. Antônio Alvares Lobo, em 15 de junho de 1960, o vereador Antônio Zanaga proferiu novo discurso em homenagem ao advogado ituano e ressaltou: “É bem por tudo isso, senhor presidente, que em 19 de dezembro de 1955, ao apresentarmos nosso projeto de lei nº 47-55 dizíamos: ‘AMERICANA tem uma grande dívida a resgatar e, com o passar do tempo é imperioso reviver o assunto para que o Poder Público tome a resolução, como lhe cabe em nome da cidade e do seu povo, saldar essa dívida de gratidão e justiça’. Esse projeto de lei, que ficou dormindo todo esse tempo o sono do esquecimento, visava a ereção de um busto de ANTÔNIO ALVARES LOBO em praça pública da nossa cidade. O ensejo é oportuno para pedirmos que êsse projeto de lei volte a ser apreciado pela casa, numa homenagem justa que traduza o reconhecimento da nossa terra e da nossa gente a esse vulto inconfundível de cidadão e patriota, que tanto fez pela nossa cidade”.

O vereador Estevam Faraone pediu que este discurso constasse em ata e que fosse publicado na imprensa, sugerindo ainda que a mesa “tomasse providência no sentido de que fosse desentranhado o processo de autoria do sr. Antônio Zanaga”. (grafia original do Livro de atas número 07, ata da 12ª sessão ordinária da Câmara Municipal de Americana, de 21 de junho de 1960).

Nesta sessão também foi comentado o fato de que as diversas publicações campineiras em homenagem a Antônio Lobo omitem sua longa relação com Americana.

Esculpido em bronze pelo artista Fausto Mazzola, professor e diretor da escola industrial de Americana, o busto de Dr. Antônio Alvares Lobo está localizado desde a década de 2010 ao lado da centenária estação de trem, mas foi inicialmente inaugurado em 1964 na Praça Comendador Müller, pelo então prefeito João Batista de Oliveira Romano. Em fins da década de 1980, após grande reforma da Avenida Dr. Antônio Alvares Lobo, o busto foi colocado em um canteiro central da mesma.

Finalmente, em 1980, a Câmara Municipal de Americana denominou “Plenário Antônio Alvares Lobo” sua sala de sessões, concluindo ciclo iniciado com o descerramento do quadro a óleo em 1926 (Processo 116/1979 – resolução publicada em 24 de março de 1980).

Encerro esta breve biografia sobre Antônio Lobo com o testemunho vivo de um companheiro do Partido Republicano Paulista, Altino Arantes: “Foi sempre incansável, consciencioso e eficiente cumpridor dos deveres dos seus mandatos, aos quais soube emprestar, sem pausas e sem desfalecimentos, o brilho de seu talento, a eloquência de sua palavra, o prestígio de sua honradez e do seu patriotismo”.

Texto e pesquisa: André Maia Alves da Silva, historiador e presidente do Instituto 12 de Novembro. Edição: Claudio Gioria, jornalista e diretor de pesquisa do instituto.


Leia mais:

– Discurso de Antônio Zanaga em sessão da Câmara de 6 de fevereiro de 1948, em homenagem a Dr. Antônio Alvares Lobo.

– Discurso de Antônio Zanaga em sessão da Câmara de 21 de junho de 1960, em homenagem a Dr. Antônio Alvares Lobo.

 
 
 
 
Antônio Alvares Lobo nasceu em Itu, em 15 de julho de 1860
Inauguração do busto de Antônio Alvares Lobo na Praça Comendador Müller, em 13 de novembro de 1964
Retrato a óleo de Antônio Alvares Lobo foi feito para o segundo aniversário da emancipação, em 12 de novembro de 1926