De: Ralph Biasi@75 – Para: chico@americana.gov

Ilustre prefeito Chico Sardelli, sei que sua agenda está repleta devido às comemorações dos 150 anos de Americana. Mas é aproveitando o ensejo de tão importante data que venho admitir estar em falta com o senhor, afinal não escrevi o parabenizando pela sua reeleição. Ah se no meu tempo houvesse reeleição… Como teria sido? O certo é que meu correligionário de MDB na época, o Tebaldi, talvez tivesse me dado uma cintada.

Chico, andei pensando aqui como “o passado conserva o sabor do fantasma” e vi que nossas administrações possuem algumas semelhanças curiosas e uma historicamente muito importante.

Ambos fomos precedidos por prefeitos da família Najar, que sempre se gabaram de nos deixar as contas em dia e com os quais mantemos relação de amizade. Enfrentamos opositores ferozes com relação a reajustes e adequações de impostos. O Dirceu Cantelli e o Carlos Rossetti, da Câmara, e o advogado Estevam Faraone até me processaram. Não deu em nada, pois sempre disse que era só gente muito rica que reclamava da suprema tragédia de suas vidas: a existência de impostos.

Na Câmara dos Vereadores enfrentei uma dualidade parecida com a polarização política enfrentada na sociedade atual. No meu caso eram os vereadores do Arena contra os vereadores do meu partido, o MDB, os únicos permitidos no período.

É, meus opositores diziam que representavam o governo revolucionário. Embora possa parecer que a composição da Câmara fosse mais elitista em minha época, a verdade é que a elegância de alguns consistia apenas naquela encomendada ao alfaiate e as suas cabeças ostentavam apenas o trabalho do barbeiro. E existiam, também, aqueles que só faltava entrar no plenário palitando os dentes.

Mas tivemos também o largo sorriso do Castilho, um legalista puro, trazendo com a conciliação atos e decretos que muito contribuíram no desenvolvimento dos trabalhos legislativos.

Dentre tantas, a mais importante das semelhanças entre nossos governos é as efemérides de 100 e 150 anos de nosso “querito município”, como dizia o alcaide que me antecedeu. O que nos difere com relação a tão grandiosa data é que eu tive a sagacidade de criar esta data, embora tenha incumbido o Leonel Benotto de apresentar na Câmara o projeto de lei que criava o centenário em 27 de agosto.

Tenho certeza que, sabendo disso, agora me parabenizará também. Não foi fácil, mas guardo a certeza de ter deixado todos felizes. Primeiro tive de criar uma comissão que desse embasamento histórico para instituir o dia 27 de agosto, que lá em 1875 foi palco da inauguração da estação de trem. A Judith Jones e o Abílio Bryan toparam a parada, mas custou caro. Em troca, ofereci um novo Brasão de Armas e uma nova bandeira do município, estampando nos símbolos máximos de Americana os soldados confederados. Tudo para, cerca de 20 anos depois, juntar a italianada, os comunistas e os cariobenses e trocar tudo de novo.

Mandei fazer um baita livro sobre a história de Americana, que realmente ficou esplêndido. Foi dirigido magistralmente pelo Jessyr Bianco, que conciliou pesquisa com as intervenções da Judith e a propaganda do desenvolvimento têxtil da década de 1970. Esses dias, conversando com uma das solícitas e simpáticas funcionárias da nossa querida Biblioteca Municipal Professora Jandira Basseto Pantano, descobri que até hoje essa obra é muito consultada.

Por ironia da história, o grande evento das comemorações do centenário que eu criei para 1975, comemorações essas que duraram um ano, não pôde ser no dia 27 de agosto (nesse dia só cortei a faixa de inauguração do asfalto da estrada da Praia Azul). Fizemos no antigão 12 de novembro. Mas que dia! Quanta pompa!

Infelizmente só poderei te contar tudo em meu próximo contato. Preciso correr para Brasília. O MDB no Congresso não tem convicções firmes como o nosso diretório municipal, estão sem saber em que canoa colocam os pés. Um forte abraço, Chico!

 

*Inspirado em Elio Gaspari e Charles Baudelaire

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