Discurso do vereador Antônio Zanaga, na sessão da Câmara Municipal de 6 de fevereiro de 1948, em homenagem ao Dr. Antônio Alvares Lobo (grafia original do Livro de Atas da Câmara Municipal).

“Ainda não se procurou compilar os dados para escrever a história de Americana. Eles existem em mãos de particulares esparsos ou na memória dos velhos residentes. É mister que algum espirito jovem, culto e amigo das nossas coisas e de nossa terra, tome essa iniciativa de elevado alcance. E essa iniciativa devia ser tomada quanto antes, pois que os elementos existentes, por serem espaços e em diferentes mãos, tendem a desaparecer por devido e incúria ou pelo pouco valor que, se-lhes dá. Bem como porque esses nossos velhos habitantes da antiga Vila Americana da estação de Santa Barbara, vão desaparecendo na passagem imperiosa do tempo, e eles são o melhor repositório de informações que se possa coligir.

Esse meu preambulo, Sr. Presidente, se explica pelo fato de verificar amiúde que nomes dignos de cidadãos que muito fizeram pela nossa terra e pela nossa gente, estão esquecidos, sem uma referência a sua memória, sem uma lembrança de quanto fizeram, e quando não, estão homenageados simplesmente pela denominação de uma das vias da cidade com seu nome.

De um desses cidadãos eminentes, pretendo me ocupar e tomar vossa atenção, só lamentando que tratando se de um dos maiores benfeitores e defensores de nosso Município, não tenha a sua memória recebido as homenagens que por justiça, por gratidão e por reconhecimento lhe são devidas, e que em vida, por mera circunstancias politicas, tenha recebido até mesmo ingratidões e esquecimento.

Quero me referir senhor Presidente a essa figura que foi o Dr Antônio Alvares Lobo, verdadeiro varão de Plutarco, honrado, probo, culto, simples e bom. Nos fins do século passado ele desembarcava na então estação de Santa Barbara, para daqui tomar seu trole que o levaria a sua fazenda Santa Guilhermina pertencente ao município de Limeira, nas divisas com Carioba. E com suas vindas periódicas, criou algumas amizades, tomou interesse pelo lugarejo que deveria surgir nas terras das fazendas de Basílio Rangel e Capitão Correa Pacheco, e que apenas se vislumbrava através de algumas casas na atual rua Carioba e algumas na atual Avenida.

Em 1900 após algum anos de lutas, precisamente em 15 de agosto desse ano, foram levado a praça em Santa Barbara, os bens penhorados a diversos negociante de Vila Americana de então que se negavam a pagar seus impostos em Santa Barbara, pois julgavam e queriam pertencer ao município e comarca de Campinas; a luta foi tenaz e prolongada e atravéz de ações no fôro de Piracicaba, então e ainda hoje sede da Comarca a que pertencia Santa Barbara e só terminou, com ganho de causa para Campinas e Vila Americana, no Congresso Legislativo do Estado.

Defendeu nessa longa perlenga os interesses de Santa Barbara e da Comarca o Dr. Francisco de Almeida Morato. Vou ler alguns trechos do memorial da Câmara Municipal de Campinas, para que se tenha uma pálida ideia de como foi apaixonante esse período inicial de nossa vida política, quando apenas se iniciava e se organizava, podíamos dizer, nosso clã; e de como souberam cuidar deste pedaço de terra e de sua preparação para o futuro, que é o nosso presente, e que o será dos nossos filhos, se seguirmos os exemplos de tenacidade, fé, valor e desprendimento.



‘Entretanto ainda quando se tratasse de crear divisas novas, deveria o poder legislativo do Estado attender, soberanamente, para comodidade e convivência das populações interessadas, únicos elementos de apropriação que podem guiar os legisladores na decisão da questão. Ora, a comodidade, e a conviniencia dos habitantes de Vila Americana são todos para continuarem a fazer parte da comunhão campineira. A estrada de ferro Paulista passa junto ao povoado e oferece facilidades extraordinárias ao comercio, as indústrias e ao movimento de passageiros, com três trens diários, para Campinas, onde todos fazem suas transações e operam seus negócios. Essas viajem é de uma hora, por via férrea magnifica e com todos os recursos de uma empresa de primeira ordem.

É de tão grande importância essa invejável situação que os próprios munícipes de Santa Barbara, mantem pela via férrea Paulista toda a suas relações de negócios. Veículos de toda ordem, percorrem as estradas, vindos ainda além da Vila de Santa Barbara com os produtos de sua lavoura, afim de transporta-los pela Paulista. As facilidades com a capital, por esse ponto, são muito maiores, de que pela sede da Comarca, também servida pela via férrea União Ituana e Sorocabana.

Observae agora as viagens dos moradores de Vila Americana, por estradas cheias de morros, em caminhos acidentados pela altitude dos terrenos, percorrendo mais de seis léguas, para virem cumprir os deveres desses cidadãos, quer como jurados e para os exercícios de seus direitos civis, como homens, ou chamados a depor ou a defesa de seus interesses jurídicos, em Piracicaba!

Nenhum poder humano poderá ou deverá acorrentar os habitantes de Vila Americana ao julgo das autoridades de S. Barbara, que os considera rebeldes, dignos de sua imorredoura vingança e objecto de ódio entranhado e imperecível. Justamente, pelo fato de quererem as postedades de Santa Barbara o extermino dos habitantes de Vila Americana, não podem os poderes públicos entrega-los a perseguição delles – perseguição foi desencadeada em penhoras sucessivas e continuas em que o requerente Intendente Municipal, representante jurídico da Comarca, e irmão germano do Juiz de paz, que despacha, que decreta estas violências e que denega os recursos todos que as leis outorgam, cônscios de que as apelações e os agravos não terão provimento do juízo ad quem, atenta a sua sempre proclamada competência ratione lori, sem embargos de quantos documentos possam instruir os feitos judiciaes e os processos que são entregues a sua decisão.’



Com o correr do tempo, digo dos anos, alguns decênios apenas, a cidade crescia paulatinamente, já distrito de paz, começou se a pensar na sua emancipação, e iniciaram-se as novas e árduas lutas, agora com elementos mais valorosos dentro do cenário político de então. E após longos trabalhos de uns poucos americanenses de coração principalmente, foi americana elevada a categoria de cidade e criado o município.

Em todas essas lutas, em todos esses longos anos, sempre o mesmo denodado amigo de Americana, lutou em primeira linha. Essa figura ímpar de cidadão, esse varão puro, advogado e político experimentado e culto, homem bom e potimal, idealista a toda prova, deixando uma memorável uma tradição de honra, de altivez, de dignidade e de carácter; que era bem a encarnação da gente simples e altera de todos os tempos, da Família, do amor a Deus e a Pátria, que sobreviverá no culto de nossa fé da nossa gratidão e do nosso civismo, foi sem dúvida senhor Presidente, a do Dr. Antônio Alvares Lobo.

A memória desse cidadão, que foi mais denodado e tenaz defensor de Americana, que lhe deve desde a disputa de suas divisas, a creação do distrito Paz, e â sua elevação a município, queremos render aqui nesta primeira sessão da Câmara de Americana, as nossas mais sinceras homenagens, o nosso sincero tributo de americanenses.

Americana ainda deve perpetuar sua gratidão a esse grande patrono, em praça pública, para que todos americanenses possam ao passar diante de seu busto, descobrir se em reconhecimento pelo muito que fez pela nossa terra. É esse o discurso pronunciado pelo Vereador Senhor Antônio Zanaga, para que transcrito bem fielmente conforme consta da ata”.