Discurso de João de Castro Gonçalves em 11 de dezembro de 1941 ao desembarcar na estação de trem investido do cargo nomeado de Prefeito Municipal de Americana
Publicado no jornal “O Município” de 14 de dezembro de 1941 (grafia original)
“Depois de alguns dias de ausencia, que eu empreguei na defesa de interesses vossos, eu retorno ao vosso seio amigo, investido das funções de Prefeito de Americana por determinação do Governo, cuja confiança representa.
Eu estou contente convosco. Contente convosco e contente comigo mesmo. Contente convosco porque me foste generoso e decidido em vosso apoio; contente convosco porque compreendi que sou o depositário de vossas esperanças; contente convosco porque atravez da vossa dedicação e do vosso apoio, eu vejo a beleza de vossa alma; contente comigo mesmo porque apezar dos espinhos e dos sofrimentos, apezar da poeira da caminhada, soue o honrado governo de São Paulo fazer-me justiça confiando a mim, brasileiro em tudo, o governo de vosso município.
Eu tudo farei para honrar o governo de São Paulo e a confiança do povo de Americana.
Trabalharei com coragem, trabalharei incansavelmente para cumprir o meu dever e realizar as vossas aspirações.
Eu não levo para a Prefeitura prevenções ou sentimentos outros contrários ao meu coração, que sabe sentir e compreender o quanto é capaz a fraqueza humana.
Eu saberei cumprir os meus deveres civicos, como saberei cumprir os meus deveres de cristão.
Entretanto, si levo os propósitos de agir com elevação dos sentimentos, é preciso que eu vos diga que, no cumprimento de meus deveres, não concederei a ninguém privilégios outros senão aqueles que a lei concede e não tolerarei cousa alguma contraria a moral administrativa.
Procurarei não cometer injustiças, e, se eu cometer injustiças ou erros, estarei sempre pronto a repara-los. Basta que o povo me diga que fui injusto ou que errei.
Por isso mesmo eu estarei sempre disposto a ouvir a opinião pública e em minha casa receberei com alegria as pessoas que quizerem me trazer o apoio de suas opiniões.
Ouvirei os industriais, os comerciantes e os operarios, ouvirei toda a gente, porque toda a gente é o povo e o povo é que governa.
Os homens públicos são seus delegados.
Muitos são os problemas de Americana.
Eu os atacarei de frente. Quanto mais difícil um problema, maior será o meu animo de ataca-lo e mais retumbante será a vitória.
Em primeira plana está o problema da agua e exgoto, problema velho, palpitante, enferrujado, que vem desafiando a energia e a bôa vontade da nossa gente.
Precisamos vence-lo.
Com o vosso apoio, eu o vencerei. É essa a maior e a mais urgente necessidade de Americana, moça e rica, mas sem o essencial para o conforto de seu povo. Deus me dê saúde que coragem não me faltará para o trabalho.
A retificação do Quilombo é outra necessidade. Necessidade de defesa sanitária que deve merecer os cuidados dos homens do governo.
Na administração de um médico, certo, não poderia êle ficar à margem ou em plano secundário.
O paço municipal tem a justifica-lo um motivo urbanistico e um motivo de melhor instalação do governo de município. O atual paço é um paradoxo em confronto com o progresso de Americana. É problema que será resolvido seguramente.cf
É pensamento do governo do Estado fundar diversas escolas profissionais, no interior.
Não deixarei de empregar esforços para conseguir do governo esse beneficio para a nossa terra.
A fundação da Santa Casa, a creação de um novo grupo escolar e de uma agencia de um dos bancos de São Paulo, merece o meu esforço. O jardim do Largo da Igreja, a arborização das ruas com espécies que produzam sombra e flores, a normalização do serviço telefonico, um parque infantil, uma reserva florestal, um campo de poiso para aviões, o contrato da força e luz, são motivos que merecerão também a nossa atenção.
E por fim, de acordo com o honrado brasileiro, que se encontra a testa dos destinos de São Paulo, o cultivo da amoreira como incentivo a cericultura. Na cidade das sedas melhor se justificará esse empreendimento, que constituirá, dentro em pouco, uma das fontes de renda do nosso País. Há, como vêdes, muito que fazer e que não são poucos e nem fáceis os problemas de Americana. Mas quanto mais forte a fortalesa, mais forte o ataque.
Não esmorecerei. O desanimo é dos fracos. A disposição é dos fortes.
Eu conto, povo de Americana, com o vosso apoio.
A sós, sem ele, nada poderei fazer.
Eu quero ser digno da vossa confiança.
Quero trabalhar e trabalharei. Ouvirei as vossas opiniões como acatarei com respeito a critica sensata, justa e honesta.
As diatribes, e a manifestação de sentimentos rasteiros não chegarão até mim. Não chegarão, como não chegaram nunca. Mêrce de Deus tenho um passado de honra e de Trabalho, e o meu esforço, será todo para a paz de nossa terra, afim de que, num ambiente tranquilo, possam todos viver e prosperar. Fala-se que a Prefeitura de Americana foi sempre o meu sonho. Não é verdade. Sempre desejei em servir a nossa terra porque é este o dever de todo cidadão; senti as suas maguas e os seus desânimos e, quando vereador, poderia ter sido Prefeito, coisa que dependia do meu voto.
Não o quis. Ao meu coração e ao meu caráter repugnava trair um amigo e o meu partido.
Dei o meu voto, notae bem, ao prefeito que acaba de deixar o cargo, e com isso dei uma prova de minha lealdade e do meu desprendimento. Já agora, porém, diante dos reclamos do meu povo, já cançado de esperar, eu não poderia recusar a investidura e a aceitei não para ocupar o lugar displicentemente, mas para trabalhar e vencer. Vamos pois todos trabalhar com a alma contente, e o coração sem sombras pela felicidade de Americana, pela harmonia de seu povo, e pela grandeza de nossa Pátria, na hora difícil em que estamos atravessando.
Os vossos representantes Snr. José Aranha Neto, brasileiros que eu muito admiro, pelo seu talento, pelo seu caráter e pelo desassombro de suas atitudes, foram essecivamente generosos para comigo.
Eu procurarei corresponder ao vosso apreço e à vossa confiança e só não realizarei os sonhos de Americana, si me faltar o vosso apoio.
Deixemos os ouvidos aos lamentos das aves agoirentas e vamos para a frente, povo de Americana, sem receio das pedradas porque a vitória nos espera.
Abraçando José Aranha eu abraço a cada um de vós, gratíssimo pelo vosso apoio e gratíssimo por esta manifestação que me tocou profundamente a alma. Eu era vosso amigo. Sou agora vosso escravo.