Hermann e suas múltiplas facetas – parte II: o operário e o gerente

Após o feliz Natal de 1904, a família Müller se reuniria por completo novamente somente 15 anos depois, com a morte do patriarca, Franz, em 1920. No segundo semestre de 1905, os mais jovens retomaram seus estudos na Alemanha e Hermann começou a trabalhar na Müller, Mello & Cia., da qual seu pai era sócio. Esse período na capital foi primordial para que ele aprimorasse seu português após tantos anos morando no exterior.

Mas logo Hermann foi novamente chamado a Carioba, pois o mestre de fiação pediu demissão e Franz precisava da ajuda e dos conhecimentos de seu primogênito. Iniciou-se então o trabalho de Hermann como mestre de fiação e uma nova faceta sua passa a ser lapidada.

Franz escreveu a Albertine, que estava na Alemanha, dizendo que “na fábrica há muito o que fazer, principalmente para o nosso Hermann, que passa o dia todo montando máquinas na nova fiação”. Em outra carta, o orgulhoso pai continuou: “acresce que o Hermann chega do serviço tão liquidado, que nem quer se levantar da cadeira.”

Em cartas posteriores, desta vez de Margarete, que havia voltado da Alemanha em fins de 1906, lemos: “O Hermann sempre se levanta mais cedo porque era o primeiro a entrar na fábrica às 6 horas. Às 7 e meia ele aparecia para tomar o café.”

Quando o apito da fábrica soava às 11 horas, “Hermann então subia… Ao meio dia terminava a hora do almoço quando soava o apito da fábrica e o Hermann retomava o trabalho intenso por outras seis horas”, quando retornava “morto de cansaço, curvado e de braços caídos, imundo como um trabalhador braçal”.

Durante quase uma década e meia Hermann trabalhou sob a gerência de seu pai e viveu o cotidiano da grande expansão da fábrica de tecidos, a diversificação da sua produção e o investimento em novas atividades.

Franz não se cansava de escrever sobre o Compridão, como ele chamava seu filho: “a cada dia que passa ele me faz mais feliz. Trabalha muito e com tamanho entusiasmo… Estou muito tranquilo… Quanto à direção da fábrica… Hoje não há um só cantinho da fiação que o Hermann não tenha examinado… Não há o que ele desconheça.”

Em 1º de agosto de 1907, aos 23 anos, Hermann viajou para a Alemanha, incumbido por seu pai, para convencer os outros sócios da“Rawlinson, Müller e Cia., Fábrica de Fiação e Tecelagem Carioba, o seu tio Hermann e os amigos Zaern e Rawlinson a investirem mais capital na firma.

Franz queria adquirir todas as terras da Fazenda Salto Grande para reincorporar Carioba a ela, como havia sido no século 19. Isso feito, a fazenda poderia tornar Carioba mais autossuficiente, com plantações de algodão para a fábrica e alimento para os animais. Mas a mais ambiciosa intenção era a construção de uma usina hidrelétrica no salto do rio Atibaia.

A empreitada diplomática e econômica de Hermann foi bem-sucedida e, em 1911, foi inaugurada a Usina Hidrelétrica de Salto Grande, grandioso empreendimento que imediatamente assinou contratos de fornecimento com Campinas e Cosmópolis.

Com a morte de seu pai, Hermann assumiu, em 1920, a gerência de todos os empreendimentos da Fazenda Salto Grande, que incluíam a Fábrica de Tecidos Carioba, a vila operária, a produção agrícola e a Usina Hidrelétrica de Salto Grande.

Tornou-se presidente do subdiretório do PRP (Partido Republicano Paulista) e começou a participar do processo de criação do município de Villa Americana. É neste período que Hermann passa a desenvolver faceta que comandaria a política local nas décadas seguines, mas isso é assunto para o nosso próximo encontro.

Com a morte do pai, Franz, Hermann assumiu os negócios em 1920

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