HERMANN THEODOR MÜLLER CARIOBA
- Nome completo: Hermann Theodor Müller Carioba
- Nascimento: 01/04/1884, em Porto Alegre (RS)
- Falecimento: 07/09/1951
- Esposa: Erna Berta Otilie Bormann Müller
- Pais: Franz Friedrich Wilhelm Müller e Anna Karoline Albertine Goetze Müller
- Filhos: Hans Joaquim Müller, Francisco Müller, Eberhard Müller, Liesel Müller e Horst Müller
- Membro do 1º Conselho Consultivo Municipal (1932-1933); membro do 2º Conselho Consultivo Municipal (1933-1934); vereador na 4ª Câmara (1936-1937); presidente na 4ª Câmara (de 23 de maio de 1936 a 9 de junho de 1937)
Nascido em 1º de abril de 1884, em Porto Alegre (RS), Hermann seguiu para a capital paulista aos 6 anos, onde seu pai, Franz Müller, estabeleceu uma casa importadora.
Aos 8 anos, foi estudar em Brunswik, na Alemanha. Ao terminar um curso técnico em tecelagem, seguiu para a Inglaterra para conhecer a prática das tecelagens em 1902, mesmo ano em que seu pai reinaugurou a Fábrica de Tecidos Carioba.
Em uma tarde em fins de outubro, após sua jornada de trabalho em uma fábrica em Manchester, seguiu para a estação de trem e lá chegando percebeu que seu trem estava partindo. Correu para tentar alcançá-lo e, ao saltar, enroscou o pé direito entre o estribo e a plataforma, sendo arrastado por metros até o trem deixar a plataforma. Teve o pé completamente esmagado. Voltou à Alemanha com seus tios e recebeu um prótese.
Regressou ao Brasil pouco antes do Natal de 1904, quando conheceu e instalou-se em Carioba. Relatos de Margarete von der Leyen, irmã de Hermann, sobre este Natal demonstram a sólida formação clássica e erudita recebida pelos filhos de Franz Müller. Nesta noite festiva, relatou ela, “Hans tocava violoncelo muito bem e Hermann o acompanhava ao piano com perfeição”.
Estes saraus também foram frequentes no ano de 1905, que contou com a presença de mais um irmão, Erich, que havia conseguido a aprovação no exame final do curso secundário e obtido o “Abitur”, que era como uma matrícula certa para o curso universitário. Como prêmio, ganhou seis meses de férias em Carioba. “As noitadas de música sempre incluíam um programa variado. Mamãe, Hermann e eu éramos os pianistas; o Erich tocava violino e o Hans tocava violoncelo”, relatou Margarete.
No segundo semestre de 1905, todos separaram-se novamente para retomarem seus estudos e Hermann para trabalhar na Müller, Mello & Cia., da qual seu pai era sócio. Neste período, ele também aprimorou seu português. A família só iria se reunir por completo novamente 15 anos depois, com a morte do patriarca, em 1920.
Em setembro de 1905, o mestre de fiação pediu demissão e Franz trouxe Hermann novamente para Carioba, dando início assim ao trabalho do filho como mestre de fiação. Uma nova faceta sua começou a ser lapidada.
No mês seguinte, Franz escreveu à sua esposa, Albertine, que estava na Alemanha: “Na fábrica há muito o que fazer, principalmente para o nosso Hermann, que passa o dia todo montando máquinas na nova fiação”. Em carta de novembro daquele ano, o orgulhoso pai destacou: “Acresce que o Hermann chega do serviço tão liquidado, que nem quer se levantar da cadeira”.
Relato de Margarete, que havia voltado da Alemanha em fins de 1906, corrobora a dedicação do irmão. “O Hermann sempre se levanta mais cedo porque era o primeiro a entrar na fábrica às 6 horas. Às 7 e meia ele aparecia para tomar o café”. Quando o apito da fábrica soava as onze horas, “Hermann então subia… Ao meio dia terminava a hora do almoço quando soava o apito da fábrica e o Hermann retomava o trabalho intenso por outras seis horas”, quando retornava “morto de cansaço, curvado e de braços caídos, imundo como um trabalhador braçal” (grafia original).
Em 1907, no dia 1º de agosto, Hermann viajou para a Alemanha, incumbido por seu pai, para convencer os outros sócios da Rawlinson, Müller e Cia., Fábrica de Fiação e Tecelagem Carioba, o seu tio Hermann e os amigos Zaern e Rawlinson, a investirem mais capital na empresa.
Franz queria adquirir todas as terras da Fazenda Salto Grande para reincorporar Carioba a ela, como havia sido no século XIX. Isso feito, a fazenda poderia tornar Carioba mais autossuficiente, com plantações de algodão para a fábrica e alimento para os animais. Mas a mais ambiciosa intenção era a construção de uma usina hidrelétrica no salto do rio Atibaia.
Em 11 de março de 1908, Hermann assumiu interinamente a direção da fábrica para uma viagem de Franz, Albertine, Margarete e Heinz à Alemanha e enviou, para que fosse entregue a bordo do “Cabo Frio”, no dia 14, uma cigarreira de ouro com rubis e brilhantes, um relógio de mesa em prata e um Chapéu Panamá como presentes pelo aniversário de 18 anos de Margarete. No final deste mesmo ano, foram anunciados os noivados de Hermann e Erna Bormann e de Margarete com Bruno von der Leyen.
Hermann casou-se com Erna Berta Otilie Bormann em Santos, no dia 5 de julho de 1909. Cinco dias depois, Margarete casou-se em Carioba.
Em 1911, foi inaugurada a Usina Hidrelétrica de Salto Grande, grandioso empreendimento que imediatamente assinou contratos de fornecimento com Campinas e Cosmópolis. Também no início desta década foi inaugurado o prédio para o Grupo Escolar Carioba, que já funcionava em um barracão desde 1908. Estas duas obras seriam de grande importância no rol de infraestrutura de Villa Americana no processo pela emancipação política de Campinas.
Com a morte de seu pai, Hermann assumiu, em 1920, a gerência de todos os empreendimentos da Fazenda Salto Grande, que incluíam a Fábrica de Tecidos Carioba, a vila operária, a produção agrícola e a Usina Hidrelétrica de Salto Grande. Tornou-se presidente do subdiretório do PRP (Partido Republicano Paulista) e começou a participar do processo de criação do município de Villa Americana. Com a emancipação do município, um diretório do partido foi criado e Hermann Müller Carioba tornou-se o seu primeiro presidente.
Neste período, passou a desenvolver uma outra faceta, a de habilidoso político, conciliador e agregador, agindo sempre como uma eminência parda, nos bastidores.
Durante o ano de 1924, provavelmente já existam algumas garantias de que ocorreria em breve a tão sonhada emancipação de Villa Americana. Um forte indício é o pouco tempo entre a emancipação, em 12 de novembro, e a primeira eleição municipal, em 14 de dezembro, para que uma chapa de seis candidatos fosse formada. Os nomes que concorreram devem ter sido habilmente escolhidos e minuciosamente estudados por Hermann ao longo de todo aquele ano.
A escolha de um médico popular (Liráucio Gomes), um farmacêutico jovem, boêmio e ilustrado (Flávio Lopes), um industrial (Jorge Gustavo Rehder), um produtor rural ancião (Luiz Delben) e por fim um dos mais conhecidos comerciantes e líder político, residente e atuante defronte à estação há décadas (Sebastião Antas de Abreu), demonstra a visão aguçada de Hermann em constituir uma Câmara com interlocução ampla, com vista que a presença da classe média urbana na cena política tornara-se mais visível em grande parte do país, assim como em Villa Americana. Esta mesma composição se mantém para as eleições da 2ª Câmara, que legisla de 15 de janeiro de 1926 a 15 de janeiro de 1929.
Em 30 de outubro de 1928 ocorre a terceira eleição municipal de Villa Americana, que comprova toda a experiência adquirida em alguns anos e a habilidade de composição do presidente do PRP local. A chapa que concorre às eleições é formada por novos agentes, que, em sua maioria, não têm ligação ao processo de emancipação: um recém-chegado ao município, mas ligado pelo casamento ao capital industrial, como foi o caso de Carlos Mathiensen; um jovem e promissor herdeiro, Antônio Zanaga; um primeiro representante do Distrito de Paz de Nova Odessa, Oscar Araium; um popular e antigo morador, um dos fundadores do Arromba (atual Rio Branco), onde foi dirigente, Fortunato Basseto; e, por fim, um representante de classes menos abastadas, Gabriel Idálio de Camargo.
A indicação para reeleição de Jorge Gustavo Rehder, além de reforçar a máxima de tudo mudar para tudo continuar igual, também está ligada a laços de amizade, capital alemão e sua religiosidade protestante.
Em 14 de outubro de 1928, o jornal “O Município” publicou uma entrevista com Hermann, que mostrou-se muito simpático e cordial, mas nada revela sobre os nomes que havia escolhido para concorrer às eleições, isso a apenas 14 dias do pleito.
Apenas frases evasivas são ditas por ele, ao passo que o jornal desmanchou-se em elogios pessoais e futilidades para agradar ao eleitor, como por exemplo a descrição da chegada do representante do jornal na Casa Müller: “Recebeu-nos na porta de entrada (…) indicou-nos a porta de entrada de seu gabinete, onde penetramos e ficamos verdadeiramente deslumbrado com o luxo da sala ricamente mobiliada”.
Neste período, é preciso levar em consideração a primeira fase do Tenentismo, que fazia oposição ao governo federal e, consequentemente, ao PRP. Em fins da década de 1920, principalmente no Rio Grande do Sul, novas frentes políticas nasceram em oposição à política do café com leite, que sustentava o então presidente Washington Luiz. Surgiram então três novos partidos: o Partido Democrático, a Liga Nacionalista e o Partido da Mocidade.
Passada a eleição em Villa Americana, ocorreu a posse, em 15 de janeiro de 1929, em uma sessão na qual também foram eleitos os novos presidente e vice-presidente do Legislativo, além dos novos prefeito e vice-prefeito. A presidência ficou com Jorge Gustavo Rehder, enquanto Carlos Mathiensen foi escolhido como prefeito. Eram dois industriais.
Em seu discurso de posse como presidente, Jorge Gustavo Rehder destacou que o “(…) Sr. Hermann Müller, que soube com rara felicidade e acerto dirigir a política local, apresentando ao eleitorado deste município uma chapa que teve por este a melhor acceitação, como ficou amplamente provado nas últimas eleições. É sobejamente conhecido por nós todos que a tarefa (…) do Sr. Hermann Müller não foi das mais fáceis, porquanto agitam-se os ânimos dentro de nosso ambiente político a ponto de causar inquietação na opinião pública desta Cidade. Mas o illustre chefe político aqui presente com a energia dos homens independentes conseguio levar a om termo a sua missão, encontrando franco apoio pelos seus amigos e correligionários. Lembro-me bem quando em a última sessão de nosso Directorio Político o S. Hermann Müller, apresentando a nova chapa, indicou o nome do Sr. Carlos Mathiensen para o futuro Prefeito de Villa Americana. Essa escolha não podia ser mais accertada, pois quem é que ignora que na pessoa deste distincto cavalheiro se reúnem as bellas qualidades que são a bondade, a honestidade e o tino de bom administrador…” (grafia original – Ata da Eleição de presidente, vice-presidente, prefeito e vice-Prefeito da Câmara Municipal de Villa Americana, em 15 de janeiro de 1929, e eleição dos membros das Comissões Permanentes desta Câmara, folha 03 frente e verso do Livro de Atas nº 03 da Câmara).
A 3ª Câmara foi destituída em 30 de outubro de 1930, seguindo a junta provisória de governo federal instituída em 24 daquele mês, quando generais destituíram o presidente Júlio Prestes, que havia sido eleito em março. Mas, em 3 de novembro, Getúlio tomou posse e instalou um novo governo, fruto da chamada Revolução de 1930.
Os municípios passaram a ser administrados por prefeitos indicados pelo interventor estadual e os Legislativos municipais acabaram sendo substituídos pelos Conselhos Municipais criados em 1932.
Em 16 de março deste ano, Hermann Müller Carioba assinou termo de compromisso como conselheiro municipal. Este Conselho foi destituído em 25 de julho de 1933, mas o segundo Conselho criado não se manteve politicamente e acabou sendo destituído em 29 de dezembro do mesmo ano, com Hermann como um dos indicados para o 3º Conselho Consultivo, que atuou até setembro de 1934. O quarto conselho perdurou até maio de 1936.
Todo este período é marcado por disputas com relação à nova Constituição, tendo inclusive sofrido o movimento de 1932, que defendia um Carta Magna aos moldes da primeira Constituição republicana. Mas Getúlio sai vitorioso e promulgou a nova Constituição em julho de 1934.
A nova Constituição previa eleições diretas e, após ocorrerem as municipais, Hermann foi eleito vereador da 4ª Câmara Municipal de Villa Americana, assumindo em 23 de maio de 1936 e sendo eleito por seus pares como o novo presidente, sendo reeleito em 9 de junho de 1937.
Com a revogação da Constituição em novembro de 1937, no dia 11 daquele mês foi assinado termo de comparecimento dos vereadores destituídos.
Em 1939, Hermann vendeu sua parte da empresa ao irmão Hans e mudou-se de Carioba. Morreu em 7 de setembro de 1951 e foi sepultado no Cemitério Municipal da Saudade, no central jazigo da família Müller.
Texto e pesquisa: André Maia Alves da Silva, historiador e presidente do Instituto 12 de Novembro. Edição: Claudio Gioria, jornalista e diretor de pesquisa do instituto.
Fontes documentais e bibliografia:
- Histórias de Família Horst Müller Carioba (1992)
- Bruno e Margaret Horst Müller Carioba (1995)
- As Nossas Riquezas – Município de Villa Americana (volume 7; João Netto Caldeira, 1930)
- Americana Edição Histórica (Jessyr Bianco, Judith Mac Knight Jones e Abílio Serra Bryan, 1975)
- Preservando Nossa História (Célia Gobbo, Fanny Olivieri, Maria José Ferreira de Araújo Ribeiro e Melquesedec Ferreira, 1999)
- Recordações de Carioba – Álbum de Memórias (Antônio Bertalia, 1999)
- Carioba: um lugar, uma herança (Suzete de Cássia Volpato Stock, São Paulo: Lexia, 2010)
- Jornal “O Município” (05/12/1926; 01/07/1928; 09/09/1928; 19/09/1928; 14/10/1928; 30/12/1928)
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