A HISTÓRIA DO ESTÁDIO DÉCIO VITTA
FICHA TÉCNICA
- Nome: Estádio Décio Vitta (foi chamado de Riobrancão da inauguração até o dia 8 de dezembro de 1986, quando o Conselho Deliberativo do Rio Branco aprovou o nome do ex-presidente do clube, Décio Vitta, para o estádio; no período do comodato com a prefeitura (veja abaixo), foi chamado de Estádio Municipal Décio Vitta.
- Proprietário: Rio Branco Esporte Clube (ficou sob contrato de comodato com a Prefeitura de Americana entre 10 de agosto de 2010 e 9 de maio de 2017)
- Inauguração: foi apresentado à imprensa em 10 de março de 1977 e inaugurado em 17 de abril de 1977, ainda sem jogo oficial
- Primeiro jogo: AEC (Americana Esporte Clube) 2 x 0 Taubaté, em 1º de maio de 1977
- Primeiro gol: Niltinho (AEC)
- Primeiro jogo do Rio Branco: Rio Branco 0 x 1 Noroeste, em 13 de maio de 1979
- Primeiro gol do Rio Branco: Dudu, em Rio Branco 1 x 0 Ginásio Pinhalense, em 27 de maio de 1979
- Inauguração da iluminação: Rio Branco 1 x 2 Palmeiras, em 11 de junho de 1991
- Recorde oficial de público: 19.244 torcedores em Rio Branco 1 x 0 São Paulo, em 9 de março de 1993
- Texto do livro “Almanaque do Rio Branco – O Embaixador de Americana”, do jornalista Claudio Gioria.
- É proibida a reprodução total ou parcial do texto e das imagens sem prévia autorização do Instituto 12 de Novembro.
Em março de 1954, o Conselho Deliberativo do Rio Branco reuniu-se e decidiu que o clube construiria o seu novo estádio em um terreno da Vila São Domingos, apesar da insistência do presidente da diretoria, Xisto Battistuzzi, para que o estádio fosse erguido na Vila Azenha, a outra área oferecida pela prefeitura.


A construção do novo estádio mexia com um clube que estava afastado das competições profissionais. Em outubro de 1956, foi criada a Comissão Pró-construção do Estádio, com cerca de 30 membros. Na reunião, foi conferido o título de sócio-benemérito aos proprietários da firma Espolio Achiles Zanaga, que doaram o terreno do estádio. A Comissão se reuniu pela primeira vez em 16 de novembro de 1956, quando foi eleito presidente Joffre Franco Bicalho.
A Comissão planejava construir um estádio com capacidade para 30 mil pessoas, com custos estimados à época em Cr$ 25 milhões. Começava então uma nova fase, a busca por recursos, já que o clube não vivia bons tempos financeiramente. Em julho de 1957, duas comissões seguiram de Americana a São Paulo e foram recebidas pelo governador Porfírio da Paz. Uma delas pedia verba para a construção da maternidade. A outra, ajuda para a obra do estádio do Rio Branco. O pedido para o estádio foi de Cr$ 10 milhões (parte em empréstimo e parte em doação). O governador prometeu ajuda, mas não fixou valor.
Em fevereiro de 1958, teve início a terraplanagem no terreno do novo estádio do Tigre. A prefeitura havia se comprometido, ainda em julho de 1953, antes de o Tigre decidir qual área queria, a pagar Cr$ 2 milhões ao clube, em cinco parcelas anuais, além de fazer todos os serviços de terraplanagem, aplainamento e plantio de grama do novo estádio. Até 1958, nenhuma prestação havia sido paga. O atraso para gramar o novo campo do Tigre já chegava a cinco anos.
Na Fernando de Camargo, em maio de 1958, as obras seguiam com maior agilidade. A área havia sido repassada pela prefeitura ao estado para a construção do colégio, que já estava sendo erguido. Só que ninguém mexia no gramado, já que lá o Rio Branco ainda jogava. Isso provocou um mal-estar entre clube e governo do estado até que o Tigre, no mês seguinte, deixou definitivamente a sua casa, passando a mandar suas partidas no estádio do Canto do Rio, que havia acabado de inaugurar sua nova sede na Rua Washington Luiz.
Sem casa, o Rio Branco tentava agilizar o seu novo estádio. Ainda em 1958, procurou a diretoria do São Paulo para conhecer o estatuto do clube da Capital a fim de se orientar sobre a venda de cadeiras cativas. A projeção era vender 7 mil cadeiras cativas. A maquete da nova praça de esportes ficou exposta no Cine Cacique para atrair interessados. E o clube não queria apenas um estádio de futebol, mas também um local para prática de arremesso de dardo, disco, pesos e martelo, além de salto com vara, maratona, corrida de velocidade, tênis, natação, jogo de bocha, basquete, vôlei, boxe e luta livre.
O Rio Branco só foi receber o que a prefeitura lhe havia prometido em julho de 1960. E foi apenas parte dos Cr$ 2 milhões. Foram Cr$ 950 mil em dinheiro e Cr$ 700 mil em serviços de drenagem e construção do muro de arrimo. O prefeito da cidade, Cid Marques, comprometeu-se a pagar os Cr$ 350 mil restantes até o final do ano. Só que o presidente do Rio Branco, Fernando Gonçalves, contestou o pagamento dos Cr$ 700 mil em serviços, já que não haviam sido autorizados pelo clube.
Sem dinheiro e sem time em campo – o clube havia paralisado as atividades do futebol em 1959 –, a dificuldade para erguer o estádio arrastou-se por toda a década de 60. Com as obras paradas, o estádio foi palco de uma outra modalidade esportiva que se tornaria tradicional em Americana. A primeira competição da história do ainda embrionário estádio foi de tiro, o 3º Campeonato Paulista de Skeet, em 21 de abril de 1965. O local foi tomado pelo público, que viu a vitória de João Rosa Júnior, com 67 pratos, seguido por Athos Carlos Pisoni (65) e Paulo Guedes (64). O vice-campeonato de Athos Pisoni, somado à boa participação de Lionello Ravera e Durval Biasi, deu a Americana o título paulista de skeet.
O tiro está ligado à história do Rio Branco não apenas por ser a primeira modalidade esportiva praticada no estádio ainda em construção. A sede náutica do clube era o antigo Clube de Caça e Tiro de Americana, que acabou incorporado ao patrimônio do Rio Branco em troca de cadeiras cativas no estádio e com a promessa de que a prática da modalidade nunca seria extinta do local, o que anos depois acabou não sendo cumprido. O Clube de Tiro oficialmente passou para as mãos do Rio Branco em 9 de abril de 1974.
Em dezembro de 1966, o Rio Branco chegou a cogitar o aumento das mensalidades dos sócios em busca de recursos para o estádio. Houve aumento de 40% (Cr$ 1.000), mas para melhorias no clube, não para o estádio, afinal nem time de futebol o clube tinha. Além disso, o Conselho Deliberativo obrigou os diretores do clube, que haviam se isentado do pagamento, a quitar todas as mensalidades, inclusive as atrasadas.
Em fevereiro de 1967, a prefeitura contratou os serviços da Tecnolar – Engenharia, Construções e Arquitetura para serviços topográficos na área do estádio. A estimativa da empresa era de um custo de Cr$ 64.140.000 e uma parte seria paga com os valores que a prefeitura ainda devia ao clube. O estádio começava, enfim, a sair do papel.









Em boletim interno do clube, de janeiro de 1971, a Comissão de Obras informou que o clube havia conseguido receber o que a prefeitura lhe devia. Com os Cr$ 200 milhões recebidos, foi contratada a construtora Ocapeba S/A. O clube, segundo o próprio boletim interno, vivia um caos tanto na secretaria quanto na tesouraria, o que fez com que iniciasse um processo de reestruturação, com a contratação de um administrador. Nessa época, já haviam sido construídas a arquibancada das cativas e as cabines de imprensa. Cerca de 70% do serviço de terraplanagem estavam prontos. Estavam a pleno vapor, dentro do clube, algumas ações em busca de verbas, como a venda do primeiro lote de 500 cadeiras cativas; a Campanha do Cimento, que buscava a doação de sacos de cimento para erguer a nova sede dentro da área do estádio; e o recebimento de títulos patrimoniais.
As obras caminhavam em ritmo lento, o que elevava o custo. Ainda em 1971, teve início a construção do fosso separando gramado da arquibancada. O terreno duro dificultava ainda mais as obras, que ficariam paradas até 1974 devido a problemas financeiros enfrentados pelo clube.
Junto com o futuro Riobrancão, o clube também construía uma nova sede, dentro da área que lhe foi doada, o que “desviava” recursos do estádio. Um dos motivos para a construção de uma nova sede foi que a prefeitura resolveu alargar a Rua Fernando de Camargo, o que provocou um corte de 10 metros de largura por toda a extensão da sede social. Era voz corrente que a antiga sede do Tigre não resistiria a essa demolição, podendo vir abaixo toda a estrutura, por isso o clube voltou seus olhos para a área do estádio.
O Rio Branco resolveu então usar o dinheiro pago pela prefeitura, referente à desapropriação dessa faixa da sede social, para a construção da nova sede, na área do estádio, logo na entrada (o que depois ficaria conhecido como elefante branco). A desapropriação, aliás, foi uma batalha entre clube e prefeitura. Finalmente, em assembleia realizada em 11 de junho de 1971, ficou decidido o que o Rio Branco exigia da prefeitura para que a desapropriação não virasse uma batalha judicial.
O prefeito Abdo Najar concordou com praticamente todas as exigências do clube: Cr$ 326 mil; a demolição, a princípio, apenas do muro e da marquise – sendo que o prédio seria derrubado apenas após o Carnaval de 1972 -; toda demolição, construção do novo muro, reparos e fechamentos de vãos por conta da prefeitura, assim como a mudança das instalações elétricas e hidráulicas.
Quando o trabalho no estádio voltou, a meta era a concretagem das vigas que sustentariam a cobertura das cativas. Eram 15 vigas, cada uma com 40 metros de comprimento, 1,5 metro de altura e 40 centímetros de largura. Na concretagem de cada viga, gastavam-se 168 sacos de cimentos e 2,4 toneladas de ferro. Cada viga pesava 60 toneladas.
As obras seguiram até que, em 10 de março de 1977, o Rio Branco apresentou à imprensa seu novo estádio, que só tinha a arquibancada onde hoje estão as cativas. O projeto era de Nestor Lindemberg. A inauguração, ainda sem um jogo oficial, aconteceu em 17 de abril de 1977. Era a inauguração apenas do gramado, afinal as obras das arquibancadas ainda seguiriam por anos.
Foi um domingo de festa em Americana. Uma fila de carros e motos partiu da sede social, na Fernando de Camargo, com a bandeira do clube, rumo ao novo estádio. Na chegada à nova casa, a Banda Municipal Monsenhor Nazareno Magi tocou o hino do clube enquanto Aurélio Cibin, ex-jogador do Tigre, chamado pela imprensa como o mais velho riobranquense da cidade, hasteou a bandeira alvinegra. O prefeito Waldemar Tebaldi e outras autoridades percorreram, de mãos dadas, a distância entre os dois gols. Ao padre Victor Fachini, do São Domingos, coube a bênção ao novo estádio.
Seguiram-se homenagens a pessoas importantes na história do clube. Primeiro, o sócio-benemérito João Truzzi, que já havia falecido. Em seguida, foram entregues títulos honorários à família Zanaga (Antonio Zanaga Sobrinho, Jair Faraone Zanaga e Julieta Romi Zanaga), pela doação dos últimos 34 mil metros quadrados da área do estádio; a Abdo Najar, ex-prefeito que ajudou na reforma da sede social na Fernando de Camargo; a João Tamborlim, pela cessão de energia elétrica para as dependências do Clube de Caça e Tiro; e Lionello Ravera, pelo empenho na incorporação do Clube de Caça e Tiro ao patrimônio do Rio Branco.
Barris de chope foram consumidos naquele dia durante a primeira partida no novo gramado, com veteranos do futebol de salão de Americana perdendo por 2 a 1 para veteranos do futebol de campo da cidade.
Apenas dois dias após a cerimônia, Tebaldi reuniu-se com dirigentes de AEC (Americana Esporte Clube) e Rio Branco. Em pauta, estava a possibilidade de o Tigre permitir que o AEC jogasse no estádio já em sua estreia em casa na divisão de acesso, no dia 1º de maio, o que foi prontamente aceito pela diretoria do Rio Branco.
Na semana anterior à estreia do AEC em Americana, a cidade se mobilizou. Foram distribuídos adesivos, que tomaram vidros de carros de Americana, chamando para a partida histórica, entre AEC e Taubaté. Em um trabalho conjunto entre prefeitura, AEC e Rio Branco, às pressas, o estádio foi praticamente cercado (mas ainda existiam pontos pelos quais poderia haver invasão de torcedores, por isso o policiamento foi reforçado), os sanitários foram deixados em ordem, bilheterias foram construídas, o entorno do campo ganhou um alambrado, o gramado recebeu tratamento especial e a drenagem foi revisada.
Existia uma preocupação com o excesso de barrancos da área, principalmente pela previsão de que muitas crianças estariam no estádio. O terreno era extremamente irregular e a única via que dava acesso ao estádio não era asfaltada. A estimativa era que o lance de arquibancada construído comportava entre 4 mil e 5 mil pessoas.
Os ingressos daquele jogo custaram Cr$ 20 e Cr$ 10 (para mulheres e menores de 13 anos). Não havia diferenciação nos ingressos. Quem chegasse primeiro poderia sentar na parte coberta. Uma carga de 5 mil ingressos foi enviada pela Federação Paulista de Futebol a pedido do Tigre. No sábado, véspera da partida, 2 mil haviam sido vendidos. Às 14h45 do domingo, os outros 3 mil se esgotaram.
Os ingressos depositados nas urnas foram então retirados e vendidos novamente. Estima-se que mais 2,8 mil foram vendidos. As estimativas de público daquele dia giram em torno de 10 mil, já que, apesar dos vários anúncios de um policiamento reforçado, centenas entraram sem pagar, dada a facilidade de acesso ao estádio, apenas passando pelas cercas que existiam ao redor. “Nós fizemos um esforço para cercar o estádio antes do jogo, porque era tudo aberto. Cercamos até de bambu”, relembra Nelson Bellan, ex-presidente do AEC, em entrevista em 2013.
Cinco ônibus da torcida do Taubaté seguiram para Americana, com 200 torcedores. O time vinha de vitória na estreia na Divisão Intermediária, por 3 a 1, sobre o Aliança, enquanto o AEC havia perdido por 2 a 0 para o Santo André.
No dia da inauguração do estádio, o Rio Branco teve eleições. A disputa foi entre as chapas Renovadora e O Tigre Voltará, que venceu e manteve Delcio Dollo na presidência do clube. O dirigente esteve no estádio e emocionou-se com a festa.
O capitão do AEC, Sergio, foi o primeiro jogador a pisar no gramado do novo estádio, conduzindo aquele grupo de jogadores com camisa azul, calções brancos e meias brancas, saudado com muita festa pela torcida. Não faltaram bandeiras na arquibancada.
A festa começou a ficar completa aos 35 do 1º tempo, quando Niltinho recebeu passe de Ligão e finalizou sem chance de defesa para Marco Antonio. A vitória por 2 a 0 foi selada aos 44 do 2º. Niltinho cobrou falta pela esquerda e Sergio, de cabeça, estufou as redes.






As obras das arquibancadas seguiram no estádio até que, pouco mais de dois anos depois da inauguração, o Rio Branco voltou e fez o seu primeiro jogo na nova casa. Foi um amistoso contra o Noroeste, em 13 de maio de 1979. O estádio já tinha capacidade para 11.600 torcedores e ficou lotado para ver o time de volta após 20 anos sem futebol.
O Rio Branco entrou em campo com a camisa azul e branca do AEC. Na sequência, os jogadores receberam dos veteranos do clube as camisas alvinegras, que foram abençoadas pelo padre Victor Fachini, o mesmo que havia abençoado o gramado na inauguração. Na preliminar, o Tigrinho, ainda com as camisas do AEC, venceu o Juventus do São Domingos por 2 a 1. Os torcedores receberam uma cópia do hino do clube com a foto dos campeões de 1922.
O Noroeste estragou a festa, vencendo por 1 a 0 com gol de Mardoni, aos 15 do 2º. No amistoso seguinte, novamente no Décio Vitta, nova derrota, 2 a 0 para o Nacional. Apenas no terceiro amistoso, o Tigre venceu pela primeira vez no estádio, 1 a 0 sobre o Ginásio Pinhalense. Dudu foi o primeiro riobranquense a balançar as redes do Riobrancão.
Os jogos no estádio nessa época eram apenas durante o dia. Por isso, o clube começou a se mobilizar, no início dos anos 80, para conseguir verba para iluminação. Em 24 de maio de 1981, o estado doou Cr$ 10 milhões para o clube, via prefeitura, para a iluminação (leia o relato de 1981 para outros detalhes).
Só que o Rio Branco não usou a verba para iluminação, e sim para outras obras no estádio, então os jogos continuaram acontecendo apenas durante o dia por toda a década de 80. Nesse tempo, o Riobrancão mudou de nome. Em 8 de dezembro de 1986, o Conselho Deliberativo decidiu dar ao estádio o nome de Décio Vitta. O dirigente estava na reunião e foi pego de surpresa, ficando emocionado.
Ex-presidente do clube, Décio fez parte da comissão que deu início à construção do estádio e era um dos maiores entusiastas da obra. Nascido em 29 de novembro de 1920, foi vereador por mais de duas décadas em Americana e viveu intensamente o Rio Branco desde pequeno. Seu pai, Raphael, e seus tios, Paschoal e Alfredo, jogaram nos primeiros anos do clube. Seu irmão, Rubens, também defendeu as cores do Rio Branco. É pai de outro Raphael, o Minão, que foi diretor de futebol e presidente do clube nos anos 90. E sua mãe, Maria Diniz, era quem, nos anos 20, lavava os uniformes dos jogadores, lustrava as taças e cuidava para que o gramado da Fernando de Camargo tivesse o mínimo de imperfeições possível.
Os anos 90 começaram e a iluminação continuava a ser o principal objetivo para o estádio. Em 14 de setembro de 1990, o presidente do clube, Chico Sardelli, e o deputado federal Ralph Biasi anunciaram que o governo do estado havia liberado verba de Cr$ 27 milhões para a iluminação do Décio Vitta. A verba teria de ser repassada para a prefeitura que, através de um projeto, levaria à votação na Câmara o repasse para o Rio Branco.
Com o time voando baixo na Divisão Intermediária de 1990 e o acesso cada vez mais perto, o clube começou também a trabalhar pela ampliação da capacidade do estádio para 15 mil torcedores, exigência da federação para clubes da 1ª Divisão. Ninguém cogitava a ideia de que, após anos de luta para subir, o Tigre deixasse de disputar a 1ª Divisão por falta de capacidade no estádio.
Em meio ao clima de euforia na cidade pela campanha do Tigre, em 1º de novembro de 1990, a Câmara aprovou a liberação de até Cr$ 20 milhões para o Rio Branco construir uma arquibancada para 3 mil lugares, atrás do gol de fundo do estádio. Um convênio entre o clube e a prefeitura foi assinado em 26 de novembro daquele ano, com o prefeito Waldemar Tebaldi entregando Cr$ 5 milhões para a ampliação do estádio.
Com o acesso garantido, o clube trabalhava às pressas, em janeiro de 1991, para a construção de uma arquibancada metálica, provisória, atrás do gol de fundo, para que pudesse disputar a 1ª Divisão. Nesse mesmo mês, no dia 30, a verba de Cr$ 27 milhões do estado para a iluminação chegou. Porém Sardelli reclamou da demora. Segundo ele, esse valor era suficiente em outubro de 1990. Mas três meses depois, era preciso o dobro. Mesmo assim, o clube programou o início das obras já para o mês seguinte.
As obras de ampliação do estádio seguiam, com o Tigre reclamando, em março de 1991, que só havia recebido Cr$ 7,5 milhões dos Cr$ 20 milhões prometidos pela prefeitura. Se as obras de ampliação demoravam, a de iluminação foi rápida após a chegada da verba do estado e com o clube desembolsando recursos próprios. Em 15 de maio de 1991, o Décio Vitta foi todo iluminado pela primeira vez. Era apenas um teste.
A novidade atraiu a torcida do Tigre, empolgada pelo acesso no ano anterior. Um simples coletivo, em 7 de junho de 1991, atraiu cerca de 800 torcedores. O treino aconteceu das 20h45 às 22h, justamente para testar a iluminação e para que os jogadores se acostumassem à novidade.
Quatro dias depois, o Décio Vitta recebeu, pela primeira vez, uma partida noturna. O adversário escolhido para o amistoso foi o Palmeiras, que venceu por 2 a 1, de virada. Coube a Aritana marcar o primeiro gol do iluminado estádio. Na cerimônia de inauguração, o Rio Branco recebeu o aval do presidente da federação, Eduardo José Farah, para jogar a 1ª Divisão. Farah pediu apenas algumas pequenas obras antes do início do Paulistão. Ele descerrou a placa de inauguração da iluminação junto com Sardelli e Tebaldi.






O Décio Vitta seguiu sem grandes mudanças até os anos 2000. Em 20 de março de 2001, o Tigre firmou parceria com a Ripasa para a construção de um placar eletrônico, atrás do gol de entrada do estádio. Em 22 de agosto de 2007, o clube teve cerca de 500 metros de cabos de energia furtados do estádio, provocando prejuízo de cerca de R$ 20 mil. Com o roubo, ficaram inviabilizados jogos à noite no estádio no restante da temporada. Roubos de cabos repetiram-se outras vezes nos anos seguintes e o placar eletrônico também foi trocado algumas vezes.
Assim como havia acontecido no início dos anos 90, o Tigre teve problemas quando conquistou novo acesso à 1ª Divisão em 2009. Após vistoria no estádio, em 17 de junho daquele ano, ficou definido que o Rio Branco teria 15 dias para apresentar um cronograma de obras à federação para aumentar a capacidade do estádio em dois mil lugares, passando de 13 mil para 15 mil. Se não o fizesse, não disputaria a Série A-1.
No segundo semestre de 2009, o estádio passou a contar com acesso à Internet sem fio (wireless), instalado em 17 de agosto pela empresa Etrex Tecnologia Digital. O acesso à Internet poderia ser feito pelo departamento administrativo, pela imprensa e por jogadores alojados no clube. Em setembro, no dia 26, o Tigre iniciou as obras de seu centro de treinamento ao lado do estádio, com a construção de um gramado de 100m x 65m, um minicampo de 30m x 20m e uma caixa de areia para trabalhos musculares. As obras nunca foram adiante.
A alternativa do Tigre para ampliar o estádio em 2009 foi construir um lance de arquibancada no barrancão, atrás do gol de entrada. Com dificuldades financeiras, o Tigre ergueu a arquibancada, mas não conseguiu a liberação do estádio antes do final do Paulistão de 2010, quando foi novamente rebaixado.
O Tigre só estreou no estádio ampliado na Copa Paulista, na derrota para o Red Bull por 2 a 1 em 17 de julho, mas com o estádio liberado apenas para duas mil pessoas. O Tigre não era derrotado no Décio Vitta desde 12 de setembro de 2008, quando perdeu do São Bento por 1 a 0. Eram 25 partidas de invencibilidade.
A crise financeira era grande e o Rio Branco sentia o reflexo em campo. Para preparar o terreno para a chegada do Americana (Guaratinguetá) à cidade, a prefeitura resolveu propor ao clube a municipalização do estádio. Era bom para a prefeitura, que estava trazendo o Guaratinguetá para a cidade; era bom para o Rio Branco, que se via livre das despesas de manutenção.
Em 8 de junho de 2010, o Conselho Deliberativo aprovou a sequência das negociações para a municipalização do Estádio Décio Vitta. A proposta da prefeitura visava também a possibilidade de receber verba federal para melhorar o estádio, buscando brigar por uma vaga de subsede da Copa de 2014. A proposta inicial da prefeitura foi de cessão do estádio por 90 anos.
O acordo foi fechado em 10 de agosto daquele ano, com a assinatura do contrato de comodato do estádio por 30 anos. A prefeitura assumiu o estádio e o Rio Branco ficou com prioridade para uso do local. Com a cessão, no mesmo dia, o prefeito de Americana, Diego De Nadai, viajou a Brasília para uma audiência com o ministro do Esporte, Orlando Silva, na qual pedia entre R$ 5 milhões e R$ 10 milhões para obras de melhoria no local. O ministro aprovou o projeto e sinalizou a possibilidade de liberar verba, mas sem falar em valores. O repasse nunca aconteceu.
Os problemas com a documentação do estádio então apenas mudaram de mãos. No dia seguinte, o Rio Branco teve cassado o Auto de Vistoria do Corpo de Bombeiros (AVCB), só que desta vez seria a prefeitura que teria de providenciar a documentação, sem a qual não poderia haver jogo no Décio Vitta, que passou a ser tratado como Estádio Municipal Décio Vitta.
O Tigre estreou na Série A-2 de 2011 com portões fechados, já que o estádio só havia sido liberado três dias antes, o que inviabilizou a venda de ingressos. Houve uma cerimônia no local na manhã do jogo, o qual aconteceu à tarde (derrota por 5 a 0 para o São José). As arquibancadas foram pintadas em branco e laranja, as cores da administração municipal. Foram reformadas as cabines de imprensa, os vestiários e as salas administrativas do estádio.
No dia 22 de janeiro de 2011, no jogo contra o Palmeiras B (derrota por 3 a 2), pela primeira vez desde 2009, o estádio estava liberado para receber sua capacidade máxima, que passou a ser de 16,3 mil torcedores.
Em 12 de dezembro daquele ano, a prefeitura anunciou e deu início à troca de todo o gramado. O serviço foi pago pela ALL (América Latina Logística), que, no mesmo dia, anunciou um pacote de obras na cidade como compensação pelo fato de a prefeitura ter dado o aval para a duplicação da linha férrea. Devido às chuvas do mês de janeiro, a troca do gramado atrasou e o Tigre só pôde estrear em casa na 9ª rodada da Série A-3, no empate em 1 a 1 com a Inter de Bebedouro, no dia 29 de fevereiro de 2012, em uma noite de muita festa no Décio Vitta.
Antes do início da partida, foi feito um minuto de silêncio em lembrança do técnico Bidon e de uma vítima das obras do Décio Vitta, o funcionário público José Dias Martins, o Kokão, que havia falecido no dia 18 de janeiro após descarga elétrica enquanto fazia serviços de manutenção no estádio. Testemunhas afirmaram que Kokão, colaborador do Clube dos Cavaleiros de Americana, estava consertando a bomba d’água do estádio quando sofreu a descarga.
Ano após ano, o Rio Branco foi enfrentando dificuldades para a renovação da documentação do estádio, o que lhe impediu de disputar várias partidas no local. Com a cassação do prefeito Diego De Nadai e a eleição de Omar Najar, em 2014, o novo governo começou a sinalizar que o contrato de comodato, pelo qual a prefeitura poderia, inclusive, utilizar dependências do estádio para abrigar departamentos municipais, não era interessante. Aos poucos, a prefeitura foi abandonando a manutenção do estádio e o Tigre se via obrigado a administrar o local, principalmente porque era de seu interesse conseguir deixar tudo em ordem para evitar despesas extras por ter de mandar jogos fora de Americana.
Tudo foi se arrastando até que a prefeitura enfim notificou o Rio Branco, em 11 de novembro de 2016, sobre o rompimento do contrato de comodato, que previa seis meses de aviso prévio. Embora o contrato apontasse para que a prefeitura fizesse a manutenção até 9 de maio de 2017, isso de fato já não acontecia havia algum tempo.



Com o empresário Dado Salau à frente do futebol na Série A-3 de 2017, o estádio teve o gramado novamente reformado e as arquibancadas lavadas e pintadas de preto e branco pela primeira vez na história. O laranja, cor que marcou o governo do prefeito cassado Diego De Nadai, desapareceu de vez das arquibancadas e do muro que cerca o Décio Vitta. O empresário do ramo de tintas estimou em R$ 100 mil os custos para que tudo fosse feito.
O estádio também ganhou (29-8-2017) uma escultura de um tigre ao lado do distintivo do clube no muro da Avenida Carmine Feola. A obra em alto relevo foi feita pelo artista plástico Vanderlei França, como estágio obrigatório na Faculdade Anhanguera, onde cursava o oitavo semestre de Engenharia Civil. Ainda em 2017, a parede preta que dá fundo à obra foi pichada pelo menos duas vezes e logo depois pintada novamente.
Em 2019 e 2020, o Décio Vitta também virou casa do Atibaia. Impedido de jogar em sua cidade devido à capacidade reduzida do Estádio Municipal Salvador Russani, o clube resolveu, após dois anos, deixar de jogar em Indaiatuba para mandar jogos na casa do Rio Branco. Ainda em 2020, no final do ano, as cativas ganharam nova pintura. As cadeiras à direita da arquibancada central foram pintadas em branco, com as iniciais RBEC em preto; do outro lado, a mesma coisa, com o ano de fundação, 1913.




