JOÃO DE CASTRO GONÇALVES
- Nome completo: João de Castro Gonçalves
- Nascimento: 31/03/1884, na Fazenda das Águas Virtuosas, no Distrito de Dourados, em Brotas (SP)
- Falecimento: 08/12/1954
- Esposa: Julieta Guimarães de Castro Gonçalves
- Pais: João Antônio Gonçalves (ex-oficial da Marinha Portuguesa e Francisca de Castro Gonçalves)
- Vereador na 4ª Câmara (1936-1937); prefeito nomeado (13 de dezembro de 1941 a 23 de março de 1947)
Nascido em 31 de março de 1884, na Fazenda da Águas Virtuosas, no Distrito de Dourados, em Brotas, era filho de João Antônio Gonçalves, ex-oficial da Marinha Portuguesa, e de Francisca de Castro Gonçalves. Cursou o Grupo Escolar e Ginásio em Brotas e, como prático de farmácia, instalou e manteve farmácia em Itaqueri da Serra por 19 anos. Ingressou na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, diplomando-se em 23 de dezembro de 1923.
Mudou-se para Villa Americana em 20 de março de 1924. Era casado com Julieta Guimarães de Castro Gonçalves. Assumiu o consultório que havia pertencido ao Dr. Cândido Cruz, na praça Basílio Rangel, local que logo passou a ser chamado de “SOS dos Pobres”, pois Castro Gonçalves atendia a todos que ali chegavam, mesmo que sem dinheiro.
Castro Gonçalves não era aclamado apenas entre a população carente. Em poucos anos, fez fama entre as classes mais abastadas, tornando-se comum a publicação em jornal de agradecimento por parte desta clientela.
Um exemplo disso foi publicado pelo jornal “O Município” em 5 de agosto de 1928, pela família Possenti: “Não temos outro modo para demonstrar nossa gratidão ao ilustre facultativo Dr. Castro Gonçalves, si não tornar público o zelo e o carinho, como médico e cavalheiro, com que tratou de nossa extremosa mãe e sogra, seja no minorar as grandes dores físicas, seja no conforto das palavras carinhosas…” (grafia original).
Participou do movimento de 1932 como Capitão Médico. Concomitante ao exercício da medicina, iniciou sua atuação política como membro do PRP (Partido Republicano Paulista). Na década seguinte, seria presidente local do PSD (Partido Social Democrático).
Após a Constituição de 1934 e a volta das eleições, Castro Gonçalves foi eleito vereador e exerceu seu mandato como vice-presidente do Legislativo de 23 de maio de 1936 a 10 de novembro de 1937, quando Getúlio Vargas revogou a Constituição e fechou todos os Legislativos do país.
Após 17 anos clinicando na cidade, foi nomeado prefeito municipal pelo interventor federal do estado, Fernando Costa, em 4 de dezembro de 1941. No dia 11 do mesmo mês, foi investido das funções na sede do governo estadual paulista e, ao retornar da capital no trem das 19h40, foi recebido por imensa multidão que, a partir das 18h, começou a lotar a rua Dr. Antônio Lobo.
A edição de 14 de dezembro de 1941 de “O Município” traz a manchete na capa: “A recepção do Povo de Americana ao seu novo Prefeito Municipal”. O jornal também relata a presença de autoridades locais, membros do comércio, indústrias, associações de classe, representantes das entidades esportivas, beneficentes, da imprensa e o povo.
No palanque montado em frente à estação de trem, José Aranha Neto, redator do jornal “O Município”, foi o primeiro a discursar, seguido pelo jovem Tom Gomes, que precedeu o novo prefeito (leia o discurso na íntegra no link ao final desse texto).
No dia 13 de dezembro de 1941, Castro Gonçalves foi recebido no Paço Municipal por Antônio Zanaga, prefeito demissionário, e tomou posse como prefeito municipal de Americana.
Mas, ao longo de sua trajetória profissional e política, também angariou ferrenhos inimigos. Por anos foi combatido em artigos de jornal e ganhou demandas judiciais que moveu sobre calúnias a seu respeito. Grande orador e escritor costumaz de colunas para jornais, versou sobre medicina, legislação e poesia.
Durante os pouco mais de cinco anos que passou à frente da prefeitura como prefeito nomeado, soube utilizar ao máximo seu grande prestígio junto aos interventores do estado daquele período, trazendo recursos e realizando importantes obras. Feitos estes que ele habilmente divulgou semanalmente em jornais, escrevendo sempre em tom direto com o leitor. Ao deixar o executivo em março 1947, promove outro ineditismo na política local, lançando uma revista com todas as realizações de sua administração.
Esta administração, como todo o período do Estado Novo, é repleta de contradições. Realizou obras de infraestrutura e sociais, como a primeira rede de água, a primeira caixa d’água, seis pontes, as escolas do São Vito e São Vicente, a praça em frente à estação de trem do distrito de Nova Odessa e o Hospital São Francisco (é um dos fundadores do hospital, onde foi diretor clínico). Mas foi também um grande expoente desta estética estado novista da “reconstrução, do espetáculo, do belo e do novo homem”. A cidade ganhou novas praças e a revitalização de outras, com iluminações luxuosas. Avenidas foram revitalizadas, arborizadas e alargadas, o cemitério municipal ganhou um ostentoso portal e, com verba estadual, conseguiu doar o restante do terreno para a construção da nova Matriz de Santo Antônio.
No aniversário do segundo ano de governo, em um evento digno de ser chamado de “estetização da política”, a remodelação urbanística da Praça Comendador Müller e o novo Paço Municipal foram inaugurados, na noite de 17 de dezembro de 1943, quando os novos “120 focos de luz” foram acesos, causando furor nas duas mil pessoas presentes e que visitaram as dependências do novo Paço.
Com a volta do regime democrático, Castro Gonçalves foi exonerado em 23 de março de 1947. Concorreu nas eleições diretas neste mesmo ano, sendo derrotado por Antônio Pinto Duarte nos últimos votos do distrito de Nova Odessa. Em 1951, foi derrotado pelo representante da situação, Jorge Arbix.
Fo internado no início de dezembro de 1954 no Hospital São Vicente de Santos e, com a piora de seu quadro de saúde, lá fez seu último pedido: queria morrer em sua residência e em Americana ser sepultado.
Aos 70 anos, faleceu na manhã do dia 8, tendo ao seu lado os médicos Enéas Assis Saes, Pedro Piolo e Domingos Finamore. O velório reuniu novamente grande multidão que, em fila pelas ruas, queria se despedir do médico em sua residência. O cortejo fúnebre também foi seguido pela massa até a pequena Igreja Matriz de Santo Antônio, onde muitos do lado de fora acompanharam a missa de corpo presente. Depois retomaram o cortejo até o Cemitério Municipal da Saudade, onde na quadra 01 ocorreu o sepultamento.
Em 19 de dezembro de 1954, foi pulicado no Diário Oficial o decreto do governador do estado denominando de “2º Grupo Escolar Dr. João de Castro Gonçalves” a nova escola inaugurada no bairro da Conserva.
Na sessão da Câmara Municipal de Americana de 21 de dezembro 1954, o presidente Nicolau João Adalla prestou homenagem ao Dr. João de Castro Gonçalves e pediu que fosse consignado um voto de profundo pesar ao “homem que deixa em nosso meio um grande vácuo e marcou sua passagem por Americana com a realização de grandes obras”.
Em 1996, a Câmara Municipal de Americana aprovou e o prefeito municipal, Frederico Pollo Müller, sancionou a lei 2.990, dando a praça próxima à rodoviária o nome de Dr. João de Castro Gonçalves.
Fontes documentais e bibliografia:
- Livro de atas das sessões da Câmara Municipal de Villa Americana nº 03
- Livro de atas das sessões da Câmara Municipal de Villa Americana nº 04
- Livro de atas das sessões da Câmara Municipal de Villa Americana n º 05
- Livro de atas das sessões da Câmara Municipal de Villa Americana n º 06
- Jornal “O Município” (08/06/1924; 18/04/1926; 20/03/1927; 05/06/1927; 06/03/1928; 05/08/1928; 12/08/1928; 24/02/1929; 10/03/1929; 07/04/1929; 21/04/1929; 28/04/1929; 26/05/1929; 02/06/1929; 12/11/1937; 14/12/1941; 21/12/1941; 18/01/1942; 17/05/1942; 09/08/1942; 23/08/1942; 30/08/1942; 18/10/1942; 01/11/1942; 10/01/1943; 24/01/1943; 21/02/1943; 04/04/1943; 11/04/1943; 25/04/1943; 09/05/1943; 13/06/1943; 20/06/1943; 11/07/1943; 08/08/1943; 15/08/1943; 05/09/1943; 03/10/1943; 07/11/1943; 17/11/1943; 21/11/1943; 19/12/1943; 20/02/1944; 05/03/1944; 21/05/1944; 01/10/1944)
- Jornal “O Tempo” (14/10/1945; 04/11/1945; 09/12/1945; 25/12/1945; 17/02/1946; 31/03/1946; 07/04/1946; 28/04/1946; 14/02/1954; 09/05/1954; 04/07/1954; 05/12/1954; 12/12/1954; 19/12/1954)
- Jornal “O Liberal” (02/12/1954; 25/12/1954; 23/07/1966)
Texto e pesquisa: André Maia Alves da Silva, historiador e presidente do Instituto 12 de Novembro. Edição: Claudio Gioria, jornalista e diretor de pesquisa do instituto.
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