João de Castro Gonçalves: dândi, popular e controverso
“Não temos outro modo para demonstrar nossa gratidão ao ilustre facultativo Dr. Castro Gonçalves, si não tornar público o zelo e o carinho, como médico e cavalheiro, com que tratou de nossa extremosa mãe e sogra, seja no minorar as grandes dores físicas, seja no conforto das palavras carinhosas…” (grafia original).
Declarações comovidas de agradecimento como esta, da família Possenti, publicada no jornal “O Município” em 5 de agosto de 1928, tornaram-se comum a partir da década de 1920.
Mas Castro Gonçalves não era aclamado apenas pelas classes abastadas. O seu consultório já havia se tornado conhecido como o SOS dos pobres, onde, mesmo sem dinheiro, todos eram atendidos.
Após a Constituição de 1934 e a volta das eleições, Castro Gonçalves foi eleito vereador e exerceu seu mandato como vice-presidente, de 23 de maio de 1936 a 10 de novembro de 1937, quando Getúlio Vargas revogou a Constituição e fechou o Legislativo brasileiro.
Após 17 anos clinicando na cidade, o médico foi responsável pela primeira grande manifestação política em Americana. No dia 11 de dezembro de 1941, a Avenida Antônio Lobo foi tomada por um verdadeiro mar de gente.
O movimento à procura de um bom lugar à frente da estação já havia começado em torno das 18h. Havia sido anunciada a chegada, no trem das 19h40, do Dr. João de Castro Gonçalves, vindo da capital, investido pelo governador como o novo prefeito municipal.
Ao longo de sua trajetória profissional e política, também angariou ferrenhos inimigos. Por anos, foi combatido em artigos de jornal e ganhou demandas judiciais, movendo processos por calúnias a seu respeito. Grande orador e escritor costumaz de colunas para jornais, versou sobre medicina, legislação e poesia.
Durante pouco mais dos cinco anos que passou à frente da prefeitura como prefeito nomeado, soube utilizar ao máximo seu grande prestígio junto aos interventores do estado daquele período, trazendo recursos e realizando importantes obras. Feitos estes que ele, habilmente, divulgou semanalmente em jornais, escrevendo sempre em tom direto com o leitor. Ao deixar o Executivo, em março 1947, mais um ineditismo na política local: lançou uma revista com todas as realizações de sua administração.
Esta administração, como todo o período do Estado Novo, foi repleta de contradições. Realizou obras de infraestrutura e sociais como a rede de água, a primeira caixa d’água, pontes, escolas e o Hospital São Francisco. Mas foi também um grande expoente desta estética estadonovista da “reconstrução, do espetáculo, do belo e do novo homem”: a cidade ganhou praças e iluminações luxuosas, avenidas foram revitalizadas e alargadas e o cemitério municipal ganhou um ostentoso portal.
No aniversário do segundo ano de governo, em um evento digno de ser chamado de “estetização da política”, a remodelação urbanística da Praça Comendador Muller e o novo Paço Municipal foram inaugurados, na noite de 17 de dezembro de 1943, quando os novos “120 focos de luz” foram acesos, causando furor nas duas mil pessoas que lá estiveram e visitaram as dependências do novo Paço.
Neste março dos 141 anos de seu nascimento, uma homenagem a Castro Gonçalves, aquele que foi conhecido como um dos homens mais gentis de seu tempo. É este homem elegante e popular que foi derrotado na controversa eleição de 1947, mas este assunto trataremos em outro momento. Por ora, aguardo o contato de quem tiver alguma história para contar sobre Castro Gonçalves.




