O leite e o pão de cada dia das mães dos trabalhadores

Toda criança que morava no Jardim da Colina sabia que, aos sábados à tarde, em 1980, passava o carroceiro dos pães. O som dos cascos do cavalo já precipitava um turbilhão de sensações a serem praze­rosamente vividas. As crianças maio­res conseguiam espaço na parte tra­seira e aberta da carroça, enquanto as menores davam saltinhos felizes nas laterais para tentar vislumbrar e eleger qual seria sua “podre delícia” daquela tarde recheada de guloseimas.

Ao ser retirado o cobertor que enco­bria aquele paraíso de delícias. os olhares lambiam as “doces delicade­zas” e provocavam um “incontrolável fascínio por cremes dourados e fru­tas cristalizadas”. Os narizes, às vezes ranhentos, inundavam-se pelo ar perfu­mado e doce das crostas dos pães.

Por muito tempo, em tempos de muitos filhos e sem máquina de lavar roupas, a vida das mulheres foi faci­litada pelo trabalho diário de venda de alimentos de porta em porta. Era o verdureiro de quem dona Aura Maia, na década de 1960, comprava tam­bém a ervilha solta para o creme do jantar dos oito filhos que trabalha­vam nas tecelagens da Princesa Tecelã. Compras estas marcadas na caderneta para serem pagas no mês seguinte.

Outro entregador de grande impor­tância foi o leiteiro, e entre eles Ame­ricana teve na família Zazeri um de seus maiores representantes. Octavio Zazeri adquiriu a leiteria de seu irmão Augusto por volta de 1956. locali­zada na rua Benjamin Batista. e passou a entregar leite em sua carroça de roda de ferro ali no bairro Corde­nonsi, no Jardim da Colina e região central.

A égua comprada da família Chiconi era chamada de Chicona. O leite era recebido de produtores como as famílias Cia e Bertine por volta das cinco horas da manhã, chegava em latões de 50 litros e era engarrafado em vidros de um litro para a entrega. Da sobra do leite da manhã, dona Helena Volpato Zazeri usava a desna­tadeira elétrica que seu marido havia ganhado para obter um creme e dele fazer manteiga. O leite desnatado era dado aos porcos. Outros tempos…

“Vamô dona Maria, com a vasilha, o leitero chegô e o leitero é que nem trem, atrasa mas vem, mas quando vem não espera ninguém”, esse era o bor­dão gritado por Octávio pelas ruas e depois adotado pelo filho Otávio Luiz, que começou a entregar leite aos 7 anos e, entre tantas peripécias, caiu da carroça uma vez e por ela foi atrope­lado. Chicona havia desembestado.

Noutra, chegou em casa chorando e dizendo que perderiam mais da metade de seus clientes. O motivo era a revolta dos consumidores com o início da venda de leite pasteurizado e ensa­cado, pois em 1969, durante a admi­nistração Abdo Najar, foi proibida a venda de leite cru. Octávio se reinventou e passou a ser representante da Leco de Campinas, a quem fornecia o leite cru da produção local e da região de Sumaré, e distribuía o leite pasteurizado por aquela empresa de laticínios.

No final dos anos de 1970, com a explosão demográfica e a inauguração do bairro Antônio Zanaga, onde nada tinha além das casas, os Zazeri passaram a levar leite a este bairro e abriram clien­tela para o padeiro Pigatto. Já no início dos anos de 1980, a leiteria Zazeri chegou a vender 100 mil litros de leite pas­teurizado para a região por dia.

Hoje, o Instituto 12 de Novembro parabeniza e homenageia as mães e os trabalhadores americanenses, do passado e do presente. desejando um futuro justo, próspero e feliz.

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